Por Edilma Duarte

A maré alta por dias seguidos adiou um choque que eu não esperava.

Quando finalmente a chuva deu trégua e a maré baixou, pude caminhar pela orla de uma pequena cidade no Sul da Bahia. Dez minutos de caminhada e me deparei com um cenário surreal.

A primeira impressão era de uma instalação artística, uma obra provocativa. Mas a realidade era bem menos inspiradora: dezenas de pneus velhos espalhados pela areia, levados ali pelas ondas, descartados sabe-se lá onde.

Nenhuma ação de retirada, nenhuma preocupação aparente com aquele rastro de descaso ambiental.

O perigo invisível dos pneus descartados

Pneus são essenciais para a mobilidade moderna, mas quando descartados incorretamente, tornam-se uma ameaça ambiental. Feitos de borracha derivada do petróleo, arames de aço e produtos químicos, podem levar até 600 anos para se decompor. Durante esse tempo, contaminam o solo, a água e a fauna.

Nos oceanos, os resíduos dos pneus afetam animais marinhos e, consequentemente, os seres humanos que consomem frutos do mar. Em terra firme, tornam-se criadouros perfeitos para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika vírus e Chikungunya. Se queimados, liberam gases tóxicos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

O que fazer com pneus velhos?

O descarte adequado de pneus é essencial. Existem diversas formas sustentáveis de reaproveitamento:

• Recapeamento e recauchutagem: prolongam a vida útil dos pneus, reduzindo a necessidade de novos descartes.
• Asfalto-borracha: incorpora pneus triturados na pavimentação, tornando o asfalto mais durável e reduzindo ruídos.
• Combustível para cimenteiras: pneus são altamente caloríficos e podem ser utilizados como fonte de energia industrial.
• Artefatos de borracha: transformam-se em pisos de quadras, tapetes automotivos e outros materiais recicláveis.

 Pequenas ações, grandes impactos

O problema do descarte de pneus é global, mas a solução começa localmente. Ao trocar pneus, certifique-se de que serão destinados a um ponto de coleta adequado. Incentive iniciativas de reaproveitamento e cobre das autoridades políticas públicas para o descarte correto.

Aquela cena na praia poderia ter sido uma obra de arte impactante. Mas não era. Era apenas um alerta silencioso de que nosso lixo sempre encontra um caminho de volta para nós.