Música: Remédio para alma, espírito e mente, sem efeitos colaterais

Foto Paulo Lacerda

Relatos de cura e desenlaces mais suaves reforçaram a ideia de que obras do músico brasileiro afetavam positivamente algumas pessoas. 

Edilma Duarte

Marcus Viana, músico brasileiro de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, cresceu ouvindo, por influência de seu pai, Sebastião Viana, —flautista e maestro que exerceu por alguns anos o papel de assistente e revisor das obras de Villa Lobos — obras de gênios como Johann Sebastian Bach, Beethoven e do próprio Villa Lobos. Coincidentemente, obras recomendadas por terapeutas em vários países do mundo.

Conhecido pelo seu trabalho à frente da banda Sagrado Coração da Terra, fundada no final dos anos 1970 e ainda em atividade, Marcus sempre desenvolveu uma significativa produção musical de forte apelo ecológico. Temática que levou também para as trilhas sonoras compostas para novelas como Pantanal.

Da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais para o primeiro grupo de rock progressivo no Brasil

Compositor sensível, holístico, Marcus Viana já experimentava a musicoterapia desde o início de seus projetos. Multi-instrumentista, atuou por sete anos como violinista da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Fez turnês e gravações ao longo dos anos 80 com artistas brasileiros como Milton Nascimento, Flavio Venturini, Beto Guedes e Lô Borges, entre outros. Mas foi com o Sagrado Coração da Terra que conquistou espaço respeitável e figurou como primeiro grupo de rock progressivo do Brasil, em um tempo em que Genesis, Yes, Pink Floyd, e outros, de grande importância, do gênero, dominavam a cena musical em todo o planeta.

O seu diferencial sempre foi a composição de verdadeiras odes à terra, à natureza, enriquecidas por arranjos primorosos em que predominam o violino e o piano do musicista. Nos anos 80 criou a Transfônica Orkestra, grupo de música vocal e instrumental que funde elementos sinfônicos às raízes brasileiras e afro-ameríndias. Com isto, ampliou a produção de sinfonias que evocam a paz, a serenidade, o amor e o respeito ao planeta.

Ao telefone, ele de sua casa no Retiro das Pedras, em Belo Horizonte, e eu, de Lake Nona, Flórida, nos EUA, Marcus Viana falou sobre o poder da música, desde a antiguidade, de sua fonte de inspiração e, por último, de um de seus  projeto, o  Farmácia de Música. 

Foto Sonhos e Sons

 

Around- Farmácia de Música é um projeto novo em sua carreira?

Marcus Viana– Não, não é novo. O nome, sim, surgiu mais recentemente. Eu trabalho com esse tipo de música há algumas décadas, entretanto, a percepção de que a música também poderia ter o dom de trazer relaxamento, paz e, consequentemente, bem estar físico e emocional, veio com o retorno da pessoas.

Quando começou?

Com a trilha sonora da novela Pantanal, da extinta Rede Manchete, descobri que havia uma energia de cura.  Depois de fazer o álbum “Francisco de Assis”, um poema musical sobre a vida do grande personagem místico do séc. XII, também conhecido como o bardo de Deus, pelo fato ser intensamente ligado à música, e símbolo da afeição humana à natureza, comecei a série new age.

Com a new age nascia a Farmácia de Música? 

Na verdade, foi quando começaram a crescer os relatos do tipo “uma música sua ajudou o meu pai a desencarnar. Ele estava agarrado na matéria, depois que comecei a colocar um CD seu para tocar reparei que em determinada música ele sorria, relaxava…até que conseguiu partir”.  Um outro me disse assim “meu pai estava desanimado, sem energia, desestimulado, comecei a tocar o seu CD, a música tal, ele ficava animadinho, os olhinhos brilhando. Conseguiu sair do hospital”. Semanalmente a minha equipe de comunicação me apresenta uma seleção de comentários das redes sociais, considerados mais relevantes. Apareciam, como até hoje, relatos ligando a minha música ao bem estar e a cura de males como a depressão, por exemplo. Eu correlacionei isso.

Todos os gêneros musicais têm sua importância e podem tocar as pessoas

Você tem vídeos belíssimos em suas músicas. Essa farmácia é multimidia…

 Sim, a Farmácia não é só de música, é uma farmácia de imagens, música e poesias.  Hoje os CDs não são mais o suporte econômico para a criação do artista. Existem outras formas de comercialização e uma delas, é o Youtube. Com isto, passei a investir também em vídeos, com imagens que traduzem muito bem a mensagem da música.

Música terapêutica tem necessariamente que ser clássica ou new age? É preciso que haja erudição para tocar a alma, o cérebro?

 Não. Não se trata de gênero ou qualidade. Eu observo que ninguém é melhor do que ninguém em se tratando de produção musical. Cada um cumpre uma função na vida! Amado Batista com aquelas baladas dele, Zezé de Camargo, os funkeiros, os rappers, cada um cumpre a sua função. O que seria da música se não fossem os músicos que fazem as pessoas cantar, dançar, sorrir, chorar, sofrer, celebrar? Todos os gêneros musicais têm sua importância e podem tocar as pessoas.

Como é a dinâmica, você decide que nesse dia vai fazer uma música para acalmar os ânimos, ou para levantar o astral das pessoas, dai, vai lá, e faz?

O retorno que tenho das pessoas me impulsiona. Saber que estou sendo útil me impulsiona, mas nem sempre faço consciente, algo assim ´agora vou fazer uma música para a cura da depressão´. Pronto: vou lá e faço.  Algumas músicas são agitadas e curam.  Tem música que é new age, calminha, e não cura, pelo contrário, causa ansiedade, angústia.  Eu posso fazer uma música com a intenção de que seja relaxante e ela não produzir esse efeito.  Pode ser até bonita, mas não ter esse poder curativo sobre as pessoas.

Qual seria então o segredo por trás disso?

 Os indianos antigos falavam das frequências das horas do dia. Segundo eles, cada hora é regida por um planeta, cada órbita de planeta que ativa a Terra tem um som, um som planetário que varia. De duas em duas horas vai mudando a frequência. É como se fosse uma escala e vai subindo. Suponha que na hora que você está ouvindo uma determinada música haja uma frequência que ressoa com o momento da órbita planetária. Essa era a antiga Ciência perdida, praticada inclusive no palácio do rei Akbar da Índia.

Já era a musicoterapia? 

Há uma lenda que eu li e reproduzo aqui. Envolve esse grande imperador Akbar (Jalaluddin Muhammad Akbar), terceiro imperador mongol da Índia (Industão 1542-1605).  Conta-se que havia um músico na corte, grande mestre da música que tocava as ragas (um conjunto de sete svars, nome pelo qual as notas musicais são conhecidas na música clássica indiana). Ele tocava a raga da manhã, a raga da tarde e a da noite. Akbar era muito famoso por usar a música como um canal cósmico de integração do Céu e Terra.  Certo dia, meio irritado com qualquer disputa no reino ele ordenou que que o músico tocasse uma raga da noite!

Ele obedeceu?

O mestre assustado ainda tentou argumentar  “é meio dia agora, meu senhor”.  O imperador replicou, furioso: —Eu quero uma raga da noite, agora! Dizem que o poder desse mestre era tão grande que ele começou a tocar a raga e, fez-se noite no palácio. Todos entraram em pânico, porque era contra a ordem do universo

O grande rei Davi, ancestral de Jesus Cristo, era músico e cantava

Então não era uma música de cura …

Na verdade a música sagrada de cura aparece desde a Bíblia, onde você vê Davi tocando harpa para acalmar o rei Saul. Ele tocava a harpa e o rei se tranquilizava. Davi foi o primeiro rei bardo. Davi, o menino que atirou uma pedra no gigante, era músico. E cantava.

Voltando à Farmácia de Música…

 Você quer saber sobre a música na cura, mas eu poderia falar também sobre outras aplicações. O exército romano usava música para guiar os soldados. Eram os cantos marciais. Já a Marselhesa foi um canto que uniu o povo francês para derrotar os exércitos da Europa que invadiam a França, depois da revolução. De repente, surge o hino que unifica o povo que estava todo disperso!  A música tem também esse poder fantástico, nesse sentido de unificar e criar egrégoras. Todas as igrejas hoje têm seus grupos de música. Todos sabem a força da música nas religiões. Veja o que é a religiosidade indiana com os mantras e a evangélica com os louvores…

O que há, afinal, além da hora planetária que você citou?

Todos os setores que me deram retorno ao longo dos anos utilizaram a minha música como cura. Confesso humildemente que eu não entendia porque algumas músicas tinham esse poder de curar, e outras não.  Então, finalmente descobri que não é a beleza da melodia, não é a força, mas sim, a frequência.

A frequência somada à hora do dia? …

Sim, é possível que seja a frequência do tom daquela música, naquela determinada hora do dia, o que provoca a interação. A órbita dos planetas tem uma frequência e essa frequência varia de acordo com a hora do dia. Cada música tem um tom, se você tocar a música com o tom correto, no momento da órbita planetária correto e ainda aplicar a cor correta, você pode obter cura. Aí introduzimos a cromoterapia…

E o efeito, seria o mesmo em todas as pessoas? 

É importante acrescentar que eu sou apenas mais um operário a trabalhar com isso. O processo curativo acontece dentro do psiquismo de cada um, então, uma música minha que pode curar você, pode ser chata para outra pessoa.  Isso é bem pessoal porque tem a ver também com as cores da alma. É possível que a cor da minha música tenha a cor de sua alma, mas não tenha a ver com a cor da alma de uma outra pessoa que, por sua vez, vai encontrar, inconscientemente, uma música que tenha a cor da alma dela.

 

 


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