Rios do Paraná têm um guardião
Diego Saldanha fala pouco e realiza um trabalho excepcional em defesa do rio que corre atrás de sua casa. A ação tem reflexos no rio Iguaçu  Foto arquivo pessoal

Por Edilma Duarte

 O rio tem o seu dia. A data, 24 de novembro, foi instituída com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para o risco de escassez de água e a necessidade de preservação e proteção dos recursos naturais. Nesta nossa edição de estreia pegamos esse barco que precisa urgentemente tornar-se centenas de navios lotados de pessoas conscientes e dispostas a trabalhar pela preservação de nossos rios, oceanos, mananciais e florestas.

Trouxemos aqui um personagem admirável de quem o  Brasil inteiro já deve ter ouvido  falar, para mostrar como é possível fazer muito, com pouco e, contagiar pessoas.

Diego Saldanha, paranaense que ganha o sustento da família vendendo frutas nos semáforos de Curitiba, capital do Paraná, tomou para si a tarefa de zelar pelo rio Atuba, que corre nos fundo de sua casa e mais abaixo ganha extensão e  nome de Iguaçu.

À propósito, em sua primeira visita às Cataratas, em 2019, ocasião em que gravou sua primeira grande reportagem nacional em emissora de televisão, Diego nos contou que por um bom tempo ele não se deu conta de que com o seu trabalho no pequeno rio Atuba,  estaria  zelando também pelo rio Iguaçu que desce calmamente até que, no Parque Nacional, vai da mansuetude a rebentação,  despencando-se no cânnion e  formando um conjunto de 275 saltos,  entre eles, os espetaculares  Floriano e União que, juntos, integram as célebres Cataratas do Iguaçu.

E aqui abro um parêntese para comentar uma reflexão um tanto fantasiosa. Ouvindo Diego explicar a sua ação diária, no rio Atuba, eu imaginava carcaças de camas, geladeiras, bicicletas, televisores, despencando junto com as águas no salto Floriano. Péssima imagem! Olhei para o jovem magro, de rosto sereno e gestos tranquilos e conclui: “ sim, temos aí um guardião dos rios!”.

Nasce a ecobarreira artesanal

Diego cresceu às margens do rio Atuba, em Colombo (PR).  Em suas águas aprendeu a nadar. Adolescente, começou a se incomodar com a quantidade de lixo descartado no seu amado Atuba. As águas sujas e fétidas já não eram apropriadas para o banho. Passou a “pescar” o que conseguia alcançar.

Em 2017 iniciou efetivamente o trabalho de limpeza do rio. Manualmente. Trabalho lento, sofrido,  e ele, só  pensava em uma forma de otimizar o processo. “Eu precisava criar uma alternativa de baixo custo e funcional para retirar o lixo. Pesquisei muito e vi que em alguns lugares havia pessoas trabalhando com  barreiras ecológicas. Não tinha recursos para investir. Foi aí que pensei em amarrar 26 galões de 20 litros desses de  água, em uma rede de proteção. Prendi um lado em uma árvore na margem do rio e o outro, a uma barra de ferro com rolamento”, explica Diego que além de ajudar o rio, pretendia introduzir na vida dos filhos, ainda pequenos, a consciência ambiental.

Reciclagem e conscientização  

O aparato desenvolvido nas horas vagas, após o expediente nas ruas de Curitiba, foi batizado Ecobarreira. Ele retém  tanto o resíduo arrastado pela correnteza, como aquele atirado ao rio pela população ribeirinha.

Com a sua ecobarreira Saldanha já recolheu cerca de dez toneladas de lixo que separa pacientemente. Não tardou a descobrir que  90% de tudo que desce no Atuba e  fatalmente chegaria ao rio Iguaçu, é resíduo reciclável.

Hoje, mantém nos fundos de sua casa, um Museu do Lixo onde expõe os mais inusitados objetos. Estão lá capacetes, brinquedos, sofás, televisores, camas,  fogões, guarda roupas, carcaças de automóveis, entre outros. Ali o ativista ambiental  recebe grupos de alunos do ensino fundamental em visitas guiadas e  fala sobre a importância de cuidar do meio ambiente. 

Ambiental e social  

Nem tudo vai para o museu do lixo. A ecobarreira de Diego Saldanha tornou-se  também, projeto social. Uma parte do  lixo recolhido e cuidadosamente separado  vai para a campanha de coleta da escola municipal em que os seus filhos estudam. Outra parte é reciclada e transformada em brinquedos a partir de uma  parceria com a ONG Eco Local Brasil, que já desenvolve esse trabalho nas praias do Sul e do Sudeste do Brasil. Esses brinquedos fazem a alegria de crianças pobres da comunidade.

Apoio da OMO

Desde que foi entrevistado pelas principais  redes de televisão do país, sem abandonar o trabalho nas ruas de Curitiba, Diego é convidado a palestrar no Brasil inteiro. Seu trabalho já foi apresentado, a convite, até no Congresso Nacional.  Também chamou a atenção do ator Ary Fontoura, coincidentemente curitibano. Embaixador da campanha Poder do Somos, da marca OMO,  que conta histórias de brasileiros que agem pelo coletivo para ajudar a construir uma sociedade melhor, Ary foi quem, por uma chamada de vídeo surpresa, levou ao conterrâneo a informação de que a marca  iria ajudá-lo a fazer melhorias na ecobarreira para expandir  o projeto.

Agente difusor

No feriado de 7 de setembro de 2021 Saldanha  decidiu realizar um outro sonho: apresentar à família as Cataratas do Iguaçu. Convidado pelo Grupo Cataratas S.A, Diego aproveitou o passeio para fazer mais uma explanação, desta vez ricamente ilustrada, aos filhos, sobre a importância de seu trabalho no rio Atuba que, a uma certa altura, se transforma em rio Iguaçu.

Para o futuro o seu propósito é continuar dando palestras e ministrando oficinas em que ensina a montar  ecobarreiras.  “Meu sonho é ver esse projeto sendo replicado em todo o país e até mesmo no mundo”.

Diego tem milhares de seguidores em suas redes sociais e utiliza desses meios para difundir, replicar a ideia da preservação dos rios.

 

 

 


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